Entrevista para o Jornal Local sobre o coronavírus

Deputado Federal Luiz Antônio Corrêa

Jornal Local: Como você está vendo a atuação das prefeituras de Valença e Rio das Flores no combate a pandemia do coronavírus? Concorda com as medidas de isolamento social tomadas aqui?

Luiz Antônio: Acredito que as prefeituras estão agindo corretamente. Estão seguindo o que deu certo em outros países e os prefeitos demonstraram seriedade no tratamento do problema. O número de doentes, apesar do aumento, ainda está controlável. 

Jornal Local:  E no caso do Governo do Estado: você acredita que as medidas tomadas pelo governador Wilson Witzel foram acertadas, exageradas ou aquém da necessidade para impedir a circulação do coronavírus?

Luiz Antônio: Foram acertadas. Só há duas formas de prevenção: testagem em massa e isolamento social. Infelizmente, a primeira é inviável pelo custo e por não haver testes suficientes. O único instrumento que temos no momento é o isolamento social.  Uma grande parcela da população não está acreditando na gravidade do problema. Há bairros da capital onde o isolamento foi ignorado e já começam a concentrar os casos da doença. O primeiro passo é o fechamento para que depois se possa estudar outras medidas. 

Jornal Local: Como você já esteve na posição de chefe do Poder executivo Municipal, você acredita que algumas ações extras poderiam estar sendo empregadas pelos prefeitos e governadores e que ainda não foram devidamente suscitadas?

Luiz Antônio: Os governos estaduais e municipais estão com as contas apertadas, é muito difícil sugerir soluções, já que envolvem custos financeiros. Universalizar os testes seria importante, pois conseguiríamos isolar apenas as regiões com maior número de casos. Este é o manejo mais inteligente da crise. Em relação ao comércio, as associações comerciais, junto com as prefeituras, deveriam fazer uma campanha mais incisiva sobre as entregas delivery. É uma divulgação simples e barata.

Jornal Local: qual a sua visão sobre o impacto econômico do isolamento social no país e os efeitos dele no futuro próximo e de médio prazo? Como esses efeitos incidirão, na sua percepção, em municípios menores, como Valença e Rio das Flores?

Luiz Antônio: A Pandemia vai gerar uma grande desaceleração da economia. Não só no Brasil, mas no mundo todo. Os municípios vão se apertar financeiramente na mesma proporção que o país. É importante, no entanto, fortalecer a transferência de recursos aos que estão na ponta da economia e aos mais necessitados. Essa não é apenas uma medida humanitária, mas uma medida econômica anticíclica, ou seja, jogar dinheiro na base da economia para que ela possa respirar. E será necessária uma ampliação do crédito com diminuição dos juros. 

Jornal Local: Qual a sua visão sobre as enormes filas que estão sendo formadas para os cidadãos terem acesso ao auxílio emergencial fornecido pelo Governo Federal? Seria possível, na sua opinião, encontrar caminhos que acabassem ou reduzir sim com o tamanho dessas filas? Ou você é da opinião de que o pagamento desse auxílio emergencial necessariamente levaria à formação das filas?

Luiz Antônio: Pelo que vejo há várias prefeituras se organizando e melhorando a situação. A Caixa teve que se organizar muito rápido e tentou fazer o possível para atender a todos. Mas no meu entender faltou diálogo do banco com as prefeituras e guardas municipais para que pudessem adotar um sistema de atendimento com o mínimo risco para as pessoas. 

Jornal Local: Como você avalia esse conflito de visão entre os chefes dos poderes executivos Municipal e Estadual com a do presidente Jair Bolsonaro, que tem se mostrado pouco afeto ao isolamento social e acredita que ele é prejudicial para a economia brasileira?

Luiz Antônio: A recessão é irreversível. Devemos tratá-la como um fato. Mas uma coisa devia ficar clara para o Governo Federal: quanto mais efetivo for o controle da pandemia – e isso significava usar rapidamente das ações necessárias – mais rápida a recuperação da economia. Brincar com saúde pública é coisa grave.  Desprezar o conhecimento científico e os dados que temos não ajuda em nada.  

Jornal Local: qual a sua avaliação das duas exonerações ocorridas recentemente, respectivamente, a do ministro da saúde Henrique Mandetta, e do ministro da justiça, Sérgio Moro, num período - de crise sanitária - considerado por muitos analistas e, de modo geral, pela imprensa, extremamente controverso para esse tipo de medida?

Luiz Antônio: Não me cabe dizer como o Presidente deve montar seu time. O que percebemos é que aos poucos os mitos estão caindo, um a um. Os seres humanos são passíveis de erros, e pagam por eles. Este período será lembrado como um tempo de grande desajuste governamental. Enquanto as lideranças do país “batem as cabeças” e “chutam as próprias canelas” nossos problemas não são resolvidos satisfatoriamente.

Jornal Local: Além de ser contrário ao isolamento social, o presidente Jair Bolsonaro tem participado de manifestações que pedem o fechamento de instituições garantidas pela Constituição Federal, entre elas, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Qual a sua visão sobre este assunto e como a Câmara dos Deputados, instituição da qual faz parte, deveria se posicionar e atuar mediante as atitudes do presidente?

Luiz Antônio: Com essa reação, o Presidente demonstra grande equívoco. Se continuar nessa linha não será inteligente. O Brasil necessita da democracia e da independência dos Três Poderes. Necessita de instituições fortes. E de lideranças. O Presidente está fazendo o contrário, quando encampa esses discursos extremistas. Minha esperança é que ele reconsidere.

Jornal Local: voltando às medidas de garantia da saúde econômica do país em meio a uma crise pandêmica, qual é a sua visão sobre as medidas que estão sendo estudadas no tocante ao congelamento dos salários de servidores da rede pública e trabalhadores da iniciativa privada? Acredita que haveria outros caminhos para salvar a economia que não passem pelo congelamento dos reajustes salariais dos trabalhadores? E com relação as medidas já implementadas pelo Governo Federal, da manutenção do emprego com suspensão do contrato de trabalho ou redução de salários e carga horária: você acredita que esse tipo de medida é necessária e prudente?

Luiz Antônio: Medidas duras terão que ser tomadas. Não sei se congelamento de salários é a medida mais inteligente. Precisamos de dinheiro na praça para gerar consumo e reaquecer a economia. Agora, sou favorável a um plano que possa combater os supersalários na administração pública. Nos três poderes. Esse seria o momento ideal. Ressalto também que os políticos deveriam dar o exemplo. Como representantes do povo, temos que passar pelos mesmos desafios. Acredito que existe clima no Congresso para se aprovar uma redução de salários e corte benefícios. Curiosamente, as maiores resistências não são no Legislativo. 

Jornal Local: Deixo esse espaço para que você possa acrescentar quaisquer informações que ache importante sobre esse momento de crise pandêmica e econômica e para as suas considerações finais.

Luiz Antônio: Além da tristeza de ver o país assolado por uma calamidade dessas, o que me incomoda é que perdemos a oportunidade de unir o país para o enfrentamento da crise. Liderança se faz com tranquilidade, ação e bom senso. Lembro-me de um famoso discurso de Churchill, o primeiro ministro britânico que guiou o povo inglês na vitória durante a Segunda Guerra. Com humildade e lucidez, ele disse: “Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor. Temos perante nós uma dura provação. Temos perante nós muitos e longos meses de luta e sofrimento. Perguntam-me qual é o nosso objetivo? Posso responder com uma só palavra: Vitória – vitória a todo o custo, vitória a despeito de todo o terror, vitória por mais longo e difícil que possa ser o caminho que a ela nos conduz; porque sem a vitória não sobreviveremos.”

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